O direito de arrependimento é disciplinado pelo art. 49 do CDC, assim redigido:
Art. 49.
O consumidor pode desistir do contrato, no prazo de 7 dias a contar de
sua assinatura ou do ato de recebimento do produto ou serviço, sempre
que a contratação de fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do
estabelecimento comercial, especialmente por telefone ou a domicílio.
Parágrafo único. Se o consumidor exercitar o direito de arrependimento previsto neste artigo, os valores eventualmente pagos, a qualquer título, durante o prazo de reflexão, serão devolvidos, de imediato, monetariamente atualizados.
CONTAGEM DO PRAZO PARA O EXERCÍCIO DO DIREITO DE ARREPENDIMENTO
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Parágrafo único. Se o consumidor exercitar o direito de arrependimento previsto neste artigo, os valores eventualmente pagos, a qualquer título, durante o prazo de reflexão, serão devolvidos, de imediato, monetariamente atualizados.
Como visto,
sempre que a contratação ocorrer fora do estabelecimento comercial do
fornecedor, ao consumidor estará garantido o prazo de sete dias para
desistir da avença. Esse prazo é chamado pela doutrina de prazo de reflexão,
justamente porque tem o objetivo de dar ao consumidor tempo para que
reflita se deseja levar adiante a contratação, já que, muitas vezes,
compra-se por mero impulso, quando, na verdade, a atividade de consumir
deve ser bem pensada, refletida pelo consumidor. O "estado natural" de
qualquer pessoa é o de não contratar. A não ser que haja uma demanda
pré-definida pelo consumidor, regra geral ninguém "acorda" desejando
contratar algo.
RAZÃO DA NORMA
O consumidor, quando
exposto a vendas fora do estabelecimento comercial como, por exemplo:
telefone, canais de vendas na TV, reembolso postal, vendas de porta a
porta e, hoje, principalmente, pela internet, fica ainda mais vulnerável perante o fornecedor. Comprando fora do estabelecimento comercial, o consumidor não tem contato in loco com
o produto ou serviço a ser adquirido; não lhe é possível conferir a
qualidade, as características do produto como: cor, tamanho, textura (no
caso de produtos) e condições de prestação (no caso de serviços). Em
resumo, as expectativas do consumidor em relação ao produto ou serviço é
que estão em jogo. Por isso o consumidor atua com mais consciência
quando adquire o produto ou serviço dentro do estabelecimento comercial.
OBS: Por
ora, estão fora do alcance da norma alguns tipos de contratação, como,
por exemplo, a compra de passagens aéreas, rodoviárias etc. Isso porque
esses serviços não estão sujeitos à prévia análise pelo consumidor. O
que ocorre, nesses casos, é a desistência do consumidor durante
determinado prazo fixado em lei, mediante a perda de parte do valor do
bilhete. Da mesma forma, softwares, como, por exemplo, programas
anti-vírus e contratação de TV por assinatura também não são alcançados
pelo art. 49 do CDC,
eis que, na maioria das vezes, ao consumidor é conferido um prazo
(geralmente um mês) gratuito para "degustação", de modo que, nesse
prazo, s. M. J, já terá reunido condições de avaliar se o programa de
computador ou o serviço de TV por assinatura atendem às suas
expectativas, e assim decidir se adquire ou não. Somente se não houver a
chamada "degustação" é que o consumidor poderá exercitar o direito de
arrependimento nesses casos. Dentro do que foi dito, relembre-se que a
boa-fé é via de mão dupla, a teor do que dispõe o art. 4º, inciso III, do CDC.
Nas relações de consumo deve-se harmonizar os interesses de seus
partícipes (consumidor e fornecedor), sempre com base na boa-fé e
equilíbrio.
Consoante
a dicção do texto legal, o início da contagem do prazo de sete dias
começa a correr da assinatura do contrato ou do recebimento do produto
ou serviço.
Contudo, a norma merece interpretação, pois, caso
seja levada ao pé da letra, pode se tornar sem efeito algum. Assim
sendo, por assinatura do contrato deve-se registrar que a respectiva
data deve coincidir com o recebimento do produto ou serviço para que o
prazo de reflexão se inicie, pois, caso o contrato seja assinado em data
anterior à entrega do bem de consumo, a regra se torna inócua, na
medida em que somente em momento posterior é que o consumidor terá o
produto ou serviço entregue e, portanto, condições de avaliá-lo, de modo
a conferir se atende às suas expectativas.
INCOLUMIDADE DO PRODUTO
No caso de produtos, é importante destacar que, caso o consumidor exercite o direito previsto no art. 49 do CDC,
deverá devolver o produto ao fornecedor nas mesmas condições em que o
recebeu, sob pena de incorrer em enriquecimento ilícito. Isso porque o
produto deve estar em condições de ser vendido a outro consumidor que,
eventualmente, desejar adquiri-lo. Assim, por exemplo, alguém que
adquira um terno fora do estabelecimento comercial, não poderá usá-lo em
um dia de trabalho ou, como é comum acontecer, alguém que adquira uma
roupa para ir a uma festa não poderá usá-la para a grande noite e depois
devolvê-la ao fornecedor, ao argumento de que não gostou do produto,
pois já a terá usado, deixando o produto de ostentar a característica de
um bem novo, por isso vindo a depreciar.
DESNECESSIDADE DE OCORRÊNCIA DE VÍCIO - DIREITO PROTESTATIVO
Por
fim, uma das características mais importantes relacionadas ao direito
de arrependimento diz respeito à desnecessidade de que o produto ou
serviço apresente algum vício para que o consumidor desista da
aquisição.
Quando manifesta o arrependimento da contratação, o
consumidor não está obrigado a declinar ao fornecedor o motivo que o
levou a desistir. Trata-se de um direito potestativo, a que o fornecedor
simplesmente está obrigado a se sujeitar. Se porventura o consumidor
decidir informar ao fornecedor o motivo da desistência, tal informação
somente poderá ser considerada pelo fornecedor a título de coleta de
dados para fins de pesquisas e estatísticas.
Conforme disposto no
artigo, uma vez exercido o direito de arrependimento, deverá o
fornecedor restituir ao consumidor a quantia eventualmente paga,
monetariamente atualizada, bem como quaisquer outros custos suportados
pelo consumidor com o envio do produto ou a prestação do serviço
(parcela eventualmente paga, transporte etc.).