Crianças e adolescentes
vítimas de violência sexual costumam demonstrar sinais ou apresentar mudanças
comportamento, denotando que algo de grave ocorreu. Alguns dos sinais mais
comuns são mudanças bruscas de comportamento sem causa aparente, atitudes agressivas
ou regressivas, baixa autoestima, insegurança, comportamento sexual inadequado
para a idade, busca de isolamento, evasão escolar, lesões ou hematomas sem
explicação clara e perda ou excesso de apetite.
No entanto, a existência de um
ou mais desses sinais nem sempre indica, com precisão, se essa criança sofreu
algum tipo de abuso ou de exploração sexual. Cabem aos órgãos encarregados da
investigação apurar e atestar se houve, de fato, a agressão.
“Geralmente as crianças têm
mudanças bruscas de comportamento. Começam a ter medo de adultos, a urinar na
cama. Passam a ficar muito tristes ou parecendo estar em depressão. Algumas
delas se isolam, conversam menos com as pessoas, [se tornam] menos
participativas. De repente, era uma criança que brincava bastante e deixa de
brincar. Perde o apetite. Existem vários sinais. Se ela [a criança] mudou o
comportamento corriqueiro de repente, é preciso identificar”, descreveu o
advogado Ariel de Castro Alves, especialista em direitos da criança e do
adolescente e membro do Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa Humana de São
Paulo (Condepe).
“Ela pode se tocar mais,
descobrir um local prazeroso”, citou ainda a professora e psicóloga Dalka
Chaves de Almeida Ferrari, especialista em Violência Doméstica pelo Laboratório
de Estudos da Criança da Universidade de São Paulo e coordenadora do Centro de
Referência às Vítimas de Violência de São Paulo do Instituto Sedes Sapientiae.
Por isso, ressaltam os
especialistas, pais e professores precisam sempre estar atentos a esses sinais
e a eventuais mudanças no comportamento. “Muitas crianças começam a apresentar
rebeldia na sala de aula ou a cometer atos de indisciplina. O desempenho
escolar também pode cair bastante ou ela aparecer com marcas mais visíveis como
hematomas e escoriações”, alertou Alves.
Ele lembrou que, em muitos
casos, o papel do professor é importante na identificação da violência sexual
infantil porque há muitas situações em que ela pode ocorrer dentro da própria
casa da criança ou do adolescente. “Sempre os educadores precisam estar
preparados e capacitados por profissionais qualificados para que possam atuar
diante dessas situações”, disse o advogado.
Profissionais da área de
saúde, destacou Alves, também precisam estar atentos. “Na vacinação ou em um
atendimento com um pediatra ou consulta, o médico é obrigado a verificar se
existem marcas de violência ou se a criança pode estar sofrendo algum tipo de
abuso, violência ou exploração. Os professores também têm essa obrigação.
Inclusive, a lei prevê punição para os profissionais de saúde e de educação que
se omitem diante destes casos”, acrescentou.
O Ministério da Saúde
classifica as violências contra crianças e adolescentes como “problemas de
saúde pública e violação dos direitos humanos”, que “geram graves consequências
nos âmbitos individual e social”, segundo um boletim epidemiológico divulgado
no ano passado.
De acordo com o Ministério da
Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, a violência sexual pode ocorrer de diversas
formas. As mais comuns são o abuso sexual e a exploração sexual. O abuso
acontece quando a criança ou adolescente é usado para satisfação sexual de uma
pessoa mais velha. Já a exploração sexual envolve uma relação de
mercantilização, onde o sexo é fruto de uma troca – financeira, de favores ou
presentes.
Para a Childhood Brasil,
instituição criada pela Rainha Silvia, da Suécia, em 1999, reconhecer situações
de violência sexual é importante “para que se possa dar encaminhamento adequado
para as vítimas e seus familiares e responsabilizar o agressor. O objetivo
disso é o enfrentamento da situação e a amenização do trauma e das
consequências sociais, psicológicas e físicas decorrentes dessa violação de
direitos”, alerta a organização, em seu site.
Diálogo
O diálogo dentro de casa ajuda
o menor a falar sobre o problema ou a identificar os abusos e a violência da
qual podem estar sendo vítimas. Crianças e adolescentes que conversam com os
pais, educadores ou responsáveis abertamente têm maior proteção contra eventos
violentos.
“É necessário que os pais
tenham essa dedicação, de conversar com a criança sobre o corpo e mostrar os
pontos vulneráveis e perigosos. E que ela [a criança] sempre tenha confiança em
alguém da família ou eleger alguém de confiança para quem ela possa pedir
ajuda”, explicou Dalka.
Ao perceber esses sinais, os
pais devem agir, segundo Dalka, com muito afeto, buscando descobrir o que está
acontecendo com a criança ou com o adolescente. Isso, ressaltou ela, nunca deve
ser feito de forma punitiva. “Com muito afeto, nada de bronca ou de punição,
porque senão a criança se fecha”, acrescentou. Identificado o abuso ou a
violência sexual, o caso deve ser denunciado aos órgãos competentes.
Fonte: Agência Brasil